quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Despedidas de primavera




Recentemente, estive em uma escola para um ciclo breve de palestras e eventos acadêmicos. A manhã de primavera estava calma, as gotículas de chuva pareciam até personagens de uma bela sintonia, onde surgira os primeiros raios de sol. Muito ansioso, peguei minha mochila de pano e fui caminhar pela Avenida da Mata, onde o pessoal estava arrumando os preparativos para a feira de um livro.
Caminhava devagar pelos canteiros centrais, entre as árvores e os quiosques quando derrepente me deparo  com uma figura masculina em meu caminho descendo as estreitas e misteriosas alamedas da avenida... Todo esse suspense traduzia ali a presença de um jovem rapaz, provavelmente oriundo de algum lugar próximo. Com um sotaque acentuado e típico da região, sussurrava suavemente aos ouvidos de uma jovem moça linda e atraente que estava imediatamente indo embora, partindo para sempre, sem demora e sem volta. Andavam no mesmo sentido, mesma direção, e, por alguns segundo, o silêncio protagonizou aquela cena romântica.
Ele então continuava afirmando o seu afastamento inadiável, sem a menor chance de um retorno, talvez insinuando as despedidas de um último romance. Falava muito, alto. Mas não se afastava da jovem, apenas prometia afastar-se imediatamente. Não hesitaram em dar continuidade àquela caminhada, não apressava o passo (...) parecia até que o tempo estaria a seu favor.

Calmamente, a moça anunciou que sentaria em um daqueles banquinhos que havia no quiosque. Sentou. Prontamente, ele sentou ao lado dela. Trocaram um olhar aparentemente muito indescritível, as mãos se tocaram, ele afirmou que já estaria partindo. Então se beijaram e ficaram de mãos dadas olhando um automóvel estacionado, talvez.
Segui caminhando em passos curtos e, não me lembro o motivo, porém não hesitei em girar e dar uma olhada, disfarçadamente, em direção àquele casal apaixonado. Afinal, este romance me concedera uma certa intimidade para com eles, uma amizade ocasional, algo do tipo. Arrumei minha mochila sobre o ombro, e olhei girando a alguns graus o meu corpo cansado. Também pudera. Passei quase uma tarde inteira tentando entender o porquê da minha interferência um pouco tanto indiscreta e indelicada nessa história.
A calçada central levava até às árvores, o quiosque, o banco onde eles estavam sentados. Ambos pareciam estar em paz e bem. Não sei por que, mas este romance fez com que a emoção tomasse conta do meu peito, e por alguns instantes me senti lisonjeado por estar ali, na Avenida da Mata, em uma tarde transfigurada, dando adeus a mais um término de primavera.
Não consigo explicar, mas esta avenida revelara em mim um lugar de amor.

SILVEIRA, Marcos de Jesus. Contos Jovens: Despedidas de primavera.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A Arte de Ser Feliz: Uma Felicidade Realista...




'A princípio bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos. Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis. Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema: queremos a piscina olímpica e uma temporada num spa cinco estrelas. E quanto ao amor? Ah, o amor... não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, queremos jantar a luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito. É o que dá ver tanta televisão. Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista. Ter um parceiro constante pode ou não, ser sinônimo de felicidade. Você pode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com um parceiro, feliz sem nenhum. Não existe amor minúsculo, principalmente quando se trata de amor-próprio. Dinheiro é uma benção. Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo, usufruí-lo. Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Apenas o suficiente para se sentir seguro, mas não aprisionado. E se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda, buscando coisas que saiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé e um pouco de criatividade. Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável. Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato, amar sem almejar o eterno. Olhe para o relógio: hora de acordar É importante pensar-se ao extremo, buscar lá d entro o que nos mobiliza, instiga e conduz, mas sem exigir-se desumanamente. A vida não é um jogo onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio. Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade. Se a meta está alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as regras, demita-se. Invente seu próprio jogo. Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade. Ela transmite paz e não sentimentos fortes, que nos atormenta e provoca inquietude no nosso coração. Isso pode ser alegria, paixão, entusiasmo, mas não felicidade.'

( Mario Quintana)


O Amor Realista, segundo Mario Quintana...


'Aos poucos eu percebi...
Que se apaixonar é inevitável, e que as melhores provas de amor são as mais simples. Um dia percebemos que o comum não nos atrai, e que ser classificado como bonzinho não é bom. Um dia percebemos que a pessoa que nunca te liga é a que mais pensa em você. Um dia saberemos a importância da frase: "Você se torna eternamente responsável por aquilo que cativa". Um dia percebemos que somos muito importante para alguém, e que não damos valor a isso! Que homem de verdade não é aquele que tem mil mulheres, mas aquele que consegue fazer uma única mulher feliz! Enfim... um dia descobrimos que apesar de viver quase um século, esse tempo todo não é suficiente para realizarmos todos os nossos sonhos, para beijarmos todas as bocas que nos atraem, para dizer tudo o que tem de ser dito. O jeito é: ou nos conformamos com a falta de algumas coisas na nossa vida ou lutamos para realizar todas as nossas loucuras!'
Mario Quintana